
os mergulhos de terça e sexta
meio ml de ar
ou o mesmo
que menos de
dois dedos
transborda
e salienta
o peito
criado por vó.
meio ml de medo
transborda
e
salienta, mesmo
que criado
por ar,
dois dedos
inteiros
no peito
desse interlúdio
verde

CHEGA PRA DIREITA, EU VOU ARRUMAR O MEU CABELO.
Uma porção ímpar de sardas vermelhas cobria do nariz a extremidade menor das orelhas de Maria. As pintinhas eram espelhos com retratos da vida grudados em seu semblante de apreciação minuciosa.
O remorso da aceitação e do modo como dispôs o livro ,de capa e páginas azul piscina desenhadas, na pia do banheiro, as trepadas e idas e vindas, bebedeiras, o reflexo de um disco do Tom Zé, a incompreensão dos improvisos do jazz e mais alguns olhares no mundo estavam congelados, como pequenos pingos vermelhos resvalados de um pincel, em seu rosto.
A tristeza em estado límpido completava com as marcas cor de sangue a representação única de um ponto final no termino de uma oração de acepção exigente e não algum tipo de beleza que pudesse lhe render horas de elogios para que seu ego tomasse a forma de um balão inflável.
O excesso de luz na vida daqueles que faziam leituras regadas à iluminação de holofotes maquiadores, deixava os sentimentos daquela mulher, algo de compreensão borrada de negro. Os espelhos dispostos, de maneira a confundir os sentidos, no sótão de sua casa, prendiam a atenção das pessoas que se organizavam em festa.A busca pela semelhança na sistematização dos passos, dos goles e dos maços assustava Maria, que se portava andante, bêbada e com um cigarro aceso entre os lábios, distante de toda a manifestação.
Foto: Bruna Buniotto