como será que eles chamam isso por lá?
ACREDITAR É IGUAL A ESQUECER
dedicado a thiago xavier
a dedicação, capaz bater de mais forte que muhammad ali, em derrubar ou amontoar pra depois de todo o esforço subir em cima e observar cada minuncioso detalhe da roupa, do corte de cabelo ou do lápis de olho da vizinha, não me fazem acreditar em mudanças. sejam elas vindas de um presidente negro, de um homem do povo, do porteiro do prédio, da construção de um viaduto ou na geração de mais empregos.
eu, absolutamente, não sei o que esperar de medidas (sejam elas quais for) ou esperanças. a cidade só pode ter uma parede de cor verde se alguém levantar da cama e crer...
[assim como a+b resulta na celebração do aniversário sua filha, repleta de salgadinhos, doces e meninos cheirando cocaína no banheiro do quartinho de empregada]
...que aquela pigmentação vai, finalmente, trazer o que você deseja. a estrutura que chamanos de cidade não te trás problemas. é você quem pinta as portas e janelas dela. e você nem ao menos se lembra que faz parte e interfere, até de cochilo, numa coisa bem maior que sua estatura, peso ou cor, trazidos ancestralmentes por correntes mais grossas que aquelas responsáveis por sangrar reis e rainhas africanas.
a sua significância é infinitamente proporcional ao chão que você pisa.
certas atitudes são idênticas às tomadas por pedaços brancos de parede no centro da cidade, ou paus que são fincados no mato para formarem cercas e protegerem patrimônios.
(Bruno)
revisar com os olhos
as primeiro cinco letras
guardadas em datilografia
no papel branco com tinta
preta
(Ferreira)
ter certeza do horário,
me virar pro espelho,
sustentar a segunda parte
da identidade
com uma benção e um beijo
(Abdala)
descer dois lances de
escada e ser agraciado,
como seria um filho de deus
por ter essas seis letras
como último e terceiro
argumento,
pela boca do porteiro.
(José de Jesus Baptista Divino)
lembrar do atraso
em bater o ponto
e saber como o
salário implica
grafia por grafia
receio por anseio.