
Esse colorido parece uma caixa de chicletes.
Depois de untar o pulmão com a melhor das fumaças, reduziu a velocidade para a mais apropriada ao momento e partiu. Os próximos passos tinham na incerteza o grande foco. Bolas vermelhas, verdes e amarelas, sinalizavam o caminho paralelo aos néons de bordeis, motéis e inferninhos.
O mais apropriado, na atual circunstância, era a escolha do local de maior apreço aos anseios da carne e aproveitar. Após adentrar o recinto, a primeira dose de macieira fez da ausência de prumo uma simples recordação imprecisa da realidade. Com os faróis alvorecidos, o teto de cimento grosso se assemelhou e muito ao sofá coberto de pele carneiro que herdou de sua avó.
Como sempre fazia - quando em casa era arrebatado por uma sensação de fastio que lhe ardia as vistas e o peito - resolveu se desapegar da comodidade e partiu rumo ao bar. Ao ingerir uma quantidade dolorosa de conhaque, as luzes a sua frente ganhavam formas dos mais sujos rebolados que seus olhos já tinham vistos.
Tudo aquilo que fazia de sua caixa torácica, um instrumento de batida claudicante se mostrou ainda mais doloroso graças a frouxa fruição de seus passos rumo ao seu objetivo. O sexo.
Com cambaleantes passadas - na direção do mais belo par de nádegas que conseguia enxergar - turvas tentativas de se apossar por algumas horas das entranhas alheias se mostravam cada vez mais difíceis.
A dicção ruidosa o deixava inerme quanto ao questionamento de seus objetos de desejo. Quando se acordou com o tempo, uma caixa de som grudada a seu ouvido direito, gritava coisas que até então só tinha ouvido quando em casa sóbrio e sorridente.
Com isso ele percebeu o quão carente são horas a fio de masturbação no seu quarto aos domingos.
Rebolados coloridos não viam sentido algum na sua forma de cantar.
Foto: Bruna Buniotto