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um sujeito fajuto, um blog precário

Tuesday, December 11, 2007

 

A VIDA COM A CRIANÇA. (primeira parte)

A companhia elétrica do Estado, depois de mensuráveis estudos sobre os jazigos veio à público com o que, segundo eles, seria a solução mais precisa para o problema dessa sociedade, predominantemente, formada por sujeitos de alcunha horizontal. Depois de incontáveis reuniões com membros de instituições, que dos problemas desses entendiam tanto quanto sabiam da existência de bichos preguiça ao longo do córrego Botafogo, concluíram que o melhor a se fazer nesse caso, era a instalação de postes de luz paralelos ao local onde estes fincaram suas raízes.


Após se levantar, para que com jatos fortes e longos de urina acordar todo o resto do apartamento, José de Jesus, mal conseguiu voltar ao local de partida. Ele que diariamente concluía esse trajeto de membranas obstruídas, por vontade própria, foi ofuscado pela luz que adentrava seu quarto e preenchia seu peito com efeito similar às substâncias até então só apreciadas em suas precárias idas a Pastelaria 84. Reduto decadente de artistas donos de revoluções onde os principais favorecidos eram marsupiais que residiam ao longo do córrego João Leite.

O cidadão comum, filho de Deus, que naquela noite mal conseguiu abrir os olhos e que se manteve acordado até o fazer do sol desse lado de cá do globo, vestiu a melhor de suas camisas - uma iguaria de seda javanesa conquistada com muita astúcia em um sorteio de final de ano no amigo oculto realizado pela família e com bolsos largos ao lado da segunda casa de botões, para o melhor armazenamento de seu maço de charm. Tomou o melhor café da manhã que conseguiu lembrar nos últimos quinze dias, desceu os dois lances de escada que separam seu quarto da calçada de pedra portuguesa, vinda diretamente das imediações da Igreja Universal na Avenida Goiás, e juntamente com alguns outros moradores do prédio com história de vida parecida, se pôs a observar o instrumento de incrível condução de energia.


Fato que aqui merece toda a inclinação possível foi o apego com que José – de Jesus –untou as partes mais tocantes de seu corpo e transferiu ao poste de modo a impressionar aqueles que o conheciam desde os primórdios tempos do interior. A maneira como ele abria o maxilar para se alimentar de luz, foi objeto de estudo daqueles mesmos homens que passavam horas a analisar os bichos preguiça. O que se estabelecia a partir de então, era uma concorrência entre os habitantes, de passos curtos e pacientes, das margens do córrego, com o enfadonho cidadão jazigo apaixonado pela luz do poste estabelecido de fronte seu quarto. Pouco tempo depois, e com um pequeno auxilio do poderio público, o jovem se tornou o centro das atenções daqueles que o rodeavam. É fato que alguns de seus antigos conhecidos tentaram se aproximar e com isso receberam títulos, por parte da família, de alpinistas sociais. Declarações pobres e infundadas a respeito das ações cometidas pelo rapaz, ganharam causas patológicas que até a mais insana das preguiças, animais estes que agora estavam procurando emprego na nova rede de supermercados que se instalava na cidade, duvidou e soltou u’a risada tão grave que marcou lote no tempo e espaço na memória dos moradores da região central do município.

A mais pura exatidão do que aconteceu entre o comedor de luz e a matriz da energia é algo que não irá ganhar forma límpida nessas páginas. De acordo com relatos de pessoas de extrema confiança, José de Jesus, queimou a luz do poste com incansáveis horas de observação. Dizem que na noite em que isso aconteceu, seu relógio havia parado de contar as horas quando essas batiam quatro e quarenta e cinco. O louco, durante todo o tempo em que descobriu o amor pelo objeto, buscou na alquimia e nos ensinamentos das preguiças, formas de subir em árvores e com isso alcançou o topo do seu amor.
Quando transferiram o poste de local, disseram também, que José se encontrava com os revolucionários, adorados pelos marsupiais, as terças para discutir como a música clássica tinha efeito idêntico a cannabis nesses pobres animais.

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