
de que lado
começa a esquina?
função ingrata
esta de dar voltas
procurar o início
das descobertas
criadas pelo homem.
crer com a esperança em repouso
de quem jamais atravesou a rua
sentou-se no banco da praça
com os pés acima da grama.
Me encaixo em qualquer
detalhe com o empurro
voluntário de quem vaga
por entre espaço
ou pedaços inteiros
de um molhe que abre
cada porta com uma determinada
chave, de um lençol em velcro
com o corpo bem cedo
de um gole quente, seco
e apertado pela
língua de conhaque
ou entre os oito buracos
no ferro juntos da luz e do teto
do seu apartamento.
Não é que me sobre-
saia mais nessa do que
naquela forma. Encaixo
sem espalhar-me confortavelmente
aos detalhes, pelo erro da
exatidão imprópria que tenho
com os acertos
pretendo estender com
folhas em branco
iguais na falta
de tons amarelados
e cantos dobrados,
para depois de bater o ponto
dos diários acúmulos brandos
afundar o corpo todo onde nada foi feito.
o monte atônito
do outro lado da rua
nunca chegou até a esquina.
também não cresce,
nem murcha ou preocupa
se embeleza ou deixa mais feia
a avenida.
o acúmulo de tudo
beija com a língua
arrancada de uma lata
vazia e vermelha de extrato
o muro da calçada recém pintado
e enche a cara
dependurado por um absorvente
com urina dos gatos de alguma
velha sem marido ou criança
de pais ausentes.
quando se passa por ele
é até bonito
quente, calado e não condena
com um olhar frio a sujeira
que lhe depositam por debaixo
aquele monte atônito
não tem idade alguma
espinha no rosto
cicatriz de mal gosto
ou sorriso desprovido
de sentido pra espectador
que aparece interessado
em seu amontoado
nem ao menos se interessa
se você dorme pra esse
ou para aquele lado
aquele monte jamais
chegou até a esquina
não é dessas pessoas
que se desdobram em
qualquer bifurcação
para ver o que acontece
com a vida.